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O SIMPLES SABER TORNA-NOS TRISTES

por Sérgio Cabral, em 23.01.08

Como um blog é também um espaço onde se convida à reflexão filosófica profunda, achei pertinente publicar, se seguida, um extracto do texto da Alocução que o Santo Padre Bento XVI teria pronunciado no decorrer da visita à Universidade “la Sapienza” de Roma, prevista para quinta-feira, 17 de Janeiro e cancelada na terça-feira anterior. Belíssimo!

 

O homem quer conhecer – quer verdade. Verdade é, antes de mais, uma coisa do ver, do compreender, da theoria, como lhe chama a tradição grega. Mas a verdade não é apenas teórica. Agostinho, ao procurar uma correlação entre as Bem-Aventuranças do Sermão da Montanha e os dons do Espírito mencionados em Isaías 11, afirmou uma reciprocidade entre “scientia” e “tristitia”: o simples saber, disse, torna-nos tristes. E, de facto, quem apenas vê e aprende tudo o que acontece no mundo, acaba por se tornar triste.

Mas a verdade significa mais do que saber: a consciência da verdade tem como objectivo a consciência do bem. Este é também o sentido do interrogar-se socrático: Qual é aquele bem que nos torna verdadeiros?

A verdade torna-nos bons e a bondade é verdadeira: é este o optimismo que vive na fé cristã, porque a esta foi dado conhecer a visão do Logos, da Razão criadora que, na encarnação de Deus se revelou junto com o Bem, como a própria Bondade.

 

(Texto integral disponível em http://www.zenit.org/article-17318?l=portuguese)

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publicado às 21:53
editado por Rui Luzes Cabral a 7/1/20 às 23:04


3 comentários

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De Rui Luzes Cabral a 23.01.2008 às 23:12

Hoje no Jornal Público este excelente artigo de Rui Ramos

PARTE I

Obrigado aos "sábios" de Roma
23.01.2008, Rui Ramos

No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos mais obscurantistas e menos livres


Há dias que quase toda a gente os anda a condenar. Parece-me que chegou a altura de lhes agradecer. Falo dos "sábios" que a semana passada, guiados por um velho estalinista e apoiados pela polícia de choque da "antiglobalização", dissuadiram o Papa de visitar a Universidade "La Sapienza" de Roma. No fim, deram-nos a todos um pretexto para rever matéria sobre teoria e história da tolerância. Não era esse o objectivo? Foi esse o efeito. E permitam-me que também aproveite a boleia. Quem sabe? Talvez os "sábios" tenham aprendido alguma coisa e não nos proporcionem tão cedo outra oportunidade.
Parece que há gente, na Europa, a quem as religiões voltaram a meter medo. Depois do 11 de Setembro, a religião tomou o lugar que o nacionalismo tinha no tempo da guerra da Jugoslávia. Não havia então semana sem mais um livro a denunciar o perigo do nacionalismo, a desconstruir o seu insidioso apelo, e a examinar as suas sinistras raízes. Agora, é a vez da fé em Deus. Subitamente, vemos andar novamente por aí as velhas casacas e chapéus de coco do anticlericalismo. Acontece que, em vez de marcharem contra o jihadistas, ei-los a avançar contra as igrejas cristãs, e especialmente contra a católica. Enganaram-se de século? É por hábito? Ou dá-lhes mais jeito mostrar contra o Papa a coragem que lhes falta perante os jihadistas? Pois: morrer pelas ideias, mas de morte lenta.
Sim, na Europa, até ao século XIX, as igrejas de Estado resistiram ao pluralismo e à sua expressão. Mas a intolerância e a perseguição que milhões de europeus sofreram nos últimos duzentos anos não se ficaram a dever às religiões tradicionais, mas às modernas ideologias laicas. Os deuses dos que não acreditam em Deus foram sempre os mais sedentos. Em nome do Ente Supremo, da ciência ou do racismo pagão, republicanos jacobinos, marxistas-leninistas e fascistas "moralizaram", proibiram e abasteceram largamente cemitérios e valas comuns. Os que prezam a liberdade de "errar" (e não apenas a de pensar "correctamente") têm uma dívida para com quem criticou os velhos dogmas, como Voltaire, mas também para com quem resistiu aos novos, como João Paulo II. Neste mundo, a liberdade de pensamento não tem pais exclusivos.
O fundamentalismo laicista trata toda a convicção religiosa como o vestígio absurdo de uma idade arcaica, intolerável fora do espaço privado. Mas a fé não é fácil, não é uma opção primitiva nem simplesmente um preconceito. Ou antes: pode ser tudo isso, mas pode também corresponder à mais forte exigência intelectual e à disponibilidade para enfrentar profundamente as mais difíceis de todas as dúvidas. Exactamente, aliás, como o ateísmo: há quem o viva como um dogma beato, muito contente consigo próprio, ou quem o tenha adoptado como a forma mais conveniente de não pensar. Muitos são hoje ateus pelas mesmas razões por que teriam sido beatos no século XVII. E se mandam calar Bento XVI é porque, há quatro séculos, teriam mandado calar Galileu.
(Continua...)

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De Rui Luzes Cabral a 23.01.2008 às 23:16

Hoje no Jornal Público este excelente artigo de Rui Ramos

(...continuação) PARTE II


As campanhas contra a religião como um óbice à concórdia e à modernidade erram frequentemente de alvo. A Irlanda e a Palestina são confrontos de nacionalismos com origens seculares. O jihadismo, como argumentou John Gray, deve tanto ou mais às ideologias laicas europeias do que à tradição islâmica. E na última década, partidos de inspiração religiosa contribuíram muito mais para a modernização e liberdade da Índia e da Turquia do que os seus adversários laicos. Nos EUA, a religião pertence ao espaço público, sem que o Estado deixe de continuar separado de qualquer igreja.
Hoje em dia, é nos crentes que certos princípios fundamentais para a nossa liberdade encontram a voz mais desassombrada. Por exemplo, a ideia da dignidade e da autonomia da pessoa como limite para experiências políticas e sociais. Numa cultura intoxicada pela hubris da ciência e das ideologias modernas, certas religiões conservaram, melhor do que outros sistemas, a consciência e o escrúpulo dos limites. O mesmo se poderia dizer da questão da verdade, que a ciência pós-moderna negou, sem se importar de reduzir o debate intelectual ao choque animalesco de subjectividades.
Não, não é preciso fé para perceber que das religiões reveladas (e doutras tradições de iniciação espiritual) depende largamente a infra-estrutura de convicções e sentimentos que sustenta a nossa vida. O seu silenciamento no espaço público não seria um ganho, mas uma perda. No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos mais obscurantistas e menos livres. Obrigado aos "sábios" de Roma por nos terem dado ocasião para lembrar isto. Historiador

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NOTA: A razão por colocar este texto em duas partes deve-se ao facto de ser muito texto para um só comentário
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De Rui Luzes Cabral a 24.01.2008 às 16:40

"O simples saber, disse, torna-nos tristes"

Não é por acaso que muitas vezes se diz empiricamente que quanto menos sabemos, mais felizes somos.
Não é por acaso que como disse PESSOA "o melhor do mundo são as crianças", ou seja, a simplicidade que têm, a pureza, o desconhecimento da complexidade do que os rodeia. "Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino do Céu", conforme desabafou Jesuas à multidão que o cercava, sedenta...
Não é por acaso que se diz também por aí que os "tolinhos" vão para o céu.
A racionalidade trouxe-nos conhecimento, mas também a dúvida e a incerteza. Saímos do jardim do Éden e agora estamos expostos à "serpente", atordoados, por vezes, perdidos.
Realmente se além desta dimensão não nos realizarmos noutra mais serena e verdadeira, caíremos constantemente na angustia, mesmo que andemos em festas permanentes. "Se o meu Reino fosse deste mundo, mandaria os meus homens para me defender"

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