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Concerto de Solidariedade "Um Canto de Esperança"

por Rui Luzes Cabral, em 28.11.07

Caros Amigos,
 
Os Leigos Boa Nova (Cucujães) estão a organizar um concerto de solidariedade intitulado "Um Canto de Esperança", em Santa Maria da Feira, no próximo dia 1 de Dezembro, para apoiar o projecto "Onjango" que os Leigos Boa Nova vão iniciar na cidade da Gabela já no próximo ano (Angola). O evento vai contar com as actuações de Ricardo Azevedo e do Pe Luís Vieira, entre outros convidados, no Auditório António Lamoso. O concerto começa às 21h30 e o bilhete custa 7 euros. Este projecto surge na sequência do projecto "Professores para a Gabela" que está a ser implementado na Cidade da Gabela (2004-2007). Dentro da área da Educação, relativamente ao trabalho a desenvolver na Escola Pré-Universitária do Amboim (PUNIV), o presente Projecto tem como objectivos fundamentais contribuir para a melhoria da qualidade do ensino no PUNIV e possibilitar o aumento das vagas existentes no Curso de Ciências Exactas (que são muito inferiores ao número de estudantes que o pretendem frequentar). Ainda dentro da mesma área, mas com planos curriculares próprios e a decorrer nas instalações da paróquia, este projecto tem também como objectivo principal educar para a saúde e valorizar a mulher angolana local promovendo cursos de culinária, decoração e partejamento. Esses cursos têm como objectivos centrais: reduzir a maternidade infantil, melhorar a saúde da Mulher e da Criança e promover e valorizar o papel da mulher na sociedade angolana. Na área do desenvolvimento rural o objectivo central é possibilitar aos pequenos agricultores locais o uso de um tractor para aumentarem a área plantada e, consequentemente, a produção de alimentos, plantas e a criação de animais. A actividade principal consiste na aquisição de um tractor e de algumas alfaias agrícolas para se colocar ao serviço dos pequenos agricultores locais. A paróquia da Gabela tem experiência na realização de projectos deste género, tendo tido há já alguns anos um tractor que servia os pequenos agricultores locais. De uma forma geral, com estes objectivos, que abarcam muitos sectores da vida local, pretende-se não só formar, mas também promover uma consciência dos benefícios que a população poderá auferir com uma melhor educação, melhor saúde e uma agricultura mais mecanizada.
 
Um abraço
Sérgio Cabral

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publicado às 01:35

QUANDO NOVEMBRO NOS ENTRA EM CASA

por Rui Luzes Cabral, em 25.11.07

1. O tempo em que vamos parece o de Thomas Hobbes, quando, em 1651, deixou escrito no seu famoso Leviatã, que «tudo o que existe tem três dimensões, a saber, comprimento, largura e altura, e aquilo que não tem três dimensões não existe nem está em parte alguma»[1]. Com este procedimento, Hobbes, e alguns dos nossos contemporâneos com ele, reduzem o homem a um objecto, sem alma nem emoções, sem alegria nem tristeza, sem encanto e sem sonho, sem Deus. É um homem à medida do cadáver, e um mundo à medida do cemitério, tudo formatado e tresandando a amoníaco. É o mundo do «dois vezes dois são quatro», de que fala Dostoievski nos seus Cadernos do Subterrâneo, acrescentando logo, em jeito de confissão: «O homem sempre teve medo deste dois vezes dois são quatro, e eu também tenho»[2].

 

2. Na esteira do grande escritor russo, vale a pena mostrar aqui um extracto das recentes e densas análises de O Método, de Edgar Morin: «O dogma da simplificação que contém a morte continua a impor-se por aí como verdade científica (...), e continua a rejeitar para fora do saber aquilo que resiste ao seu controlo. E os defensores deste dogma – continua Edgar Morin – vêem-nos como miseráveis, pedintes, esgadanhando os dejectos das suas lixeiras». E acrescenta depois de forma contundente: «Num sentido, eles têm razão: nós queremos recuperar e reciclar os dejectos que a sua ciência expulsa: não apenas o incerto, o impreciso, o ambíguo, o paradoxal, a contradição, mas também o ser, a existência, o indivíduo, o sujeito. Julgam deitar fora os excrementos do saber: não sabem que atiram para o lixo o ouro do tempo»[3].

 

3. Nada de novo. Seis séculos a. C., já o filósofo grego Heraclito deixava escrito, no seu Fragmento 9, que «Os burros preferem a palha ao ouro». E já no nosso tempo, Martin Heidegger, debruçando-se, nos seus Ensaios e Conferências, sobre a referida sentença de Heraclito, pôde lê-la para nós, explicitando que este «ouro» depreciado é «O brilho não visto da claridade, e não se deixa agarrar, porque ele próprio não agarra»[4], porque não é do domínio da posse, não obedece à regra das três dimensões.

 

4. Anda hoje outra vez por aí muito badalada a cultura das três dimensões. E é nesse sentido que dos hospitais se pretende retirar os capelães, porque aos doentes, reduzidos a três dimensões, bastam os cuidados técnicos que lhes são prestados por técnicos, da mesma forma que das escolas se pretende retirar os símbolos religiosos, porque às crianças basta o alfabeto, a tabuada e a fita métrica, e a Igreja deve ser marginalizada, silenciada e banida como verdadeira fonte de ignorância, dado que o que diz e faz está para além das três dimensões, e já se decretou que o que não tem três dimensões não existe nem está em parte alguma.

 

5. Mas Novembro entra-nos outra vez em casa. E, não se sabe bem porquê, também os defensores da cartilha das três dimensões aparecem a visitar o cemitério e a depor flores nos túmulos dos seus familiares e amigos. E até, muito provavelmente, entrarão em alguma Igreja. Novembro é habitado por um silêncio cortante. Um silêncio que nunca se calou. E as flores, carregadas de sentido, mas silentes, são sempre as últimas a deixar o cemitério. Sim, porque, que se saiba, o sentido nunca faz barulho. Um texto, por exemplo, é letra e som. Mas quando o interpretamos, não é a letra e o som que captamos, mas o sentido que habita essa letra e esse som. Afinal, por mais esforço que se faça, não é possível reduzir o homem a três dimensões. Há sempre uma flor ou uma lágrima, cujo sentido se chama amor, e que não é redutível a três dimensões.

 

6. Novembro lembra-nos outra vez que passamos muito tempo e que talvez gastemos até muitas energias a deitar para o lixo o ouro do tempo! Lembra-te, meu irmão de Novembro, que és pó e amor. E o amor não volta ao pó.

 

António Couto

 

[1] Th. HOBBES, Leviathan, or the Matter, Form and Power of a Commonwealth, Ecclesiastical and Civil, Londres, Andrew Crooke,  1951, Cap. 46, cit. por J. THROWER, Breve História do Ateísmo Ocidental, Lisboa, Edições 70, 1982, p. 95. Ver agora, em edição portuguesa, Th. HOBBES, Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 3.ª ed., 2002, p. 498.

[2] F. DOSTOIEVSKI, Cadernos do Subterrâneo, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, p. 51 e 55.

[3] E. MORIN, O Método. 2. A vida da vida, Lisboa, publicações Europa-América, s/d, p. 362-363.

[4] M. HEIDEGGER, Essais et Conférences, Paris, Gallimard, 7.ª ed., 1958, p. 340-341.

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publicado às 13:06

Donde vem a crise da Escola?

por Rui Luzes Cabral, em 22.11.07

O nosso sistema escolar passa por um período de forte controvérsia, em todos os seus níveis. A Escola já não é o que era, diz-se. Fazer todo o percurso da escolaridade não garante uma saída na vida. Por isso, uma grande percentagem de jovens abandona precocemente o ensino. Um grande número dos que chegam ao fim da formatura encontra-se sem trabalho ou vê-se perante a necessidade de emigrar para outros espaços onde a formação académica é mais valorizada. O nosso Estado investe uma quantia considerável de recursos na Escola. Mas, perante os factos, esse investimento é, em boa medida, um investimento desfocado. Será apenas um problema de circunstância ou será algo mais? Cremos que é algo mais. Parece que a crise da escola é, mais profundamente, uma crise da própria cultura moderna.


A escolarização foi pensada nos últimos dois séculos num horizonte racionalista, instrumental e elitista. A função da Escola é pôr no terreno o ideal de conquista que o género humano prossegue em relação aos determinismos. Através da sua razão, a humanidade conquista a matéria e o espaço, domina a natureza e os animais, inova os procedimentos para chegar aos seus objectivos, domina os mercados, numa palavra, melhora a vida. A Escola torna competente para este complexo ideal.

Mas podemos perguntar: a Escola moderna preocupa-se com mudar o ser humano, tornando-o mais humano, mais convivente com o seu semelhante, mais integrado no mundo? Isso é mais discutível. O que vimos primeiro foi uma Escola que formou elites que se distanciaram dos outros, tendo melhores lugares, mais ganho, mais qualidade. O que vemos agora que a escola se massificou é uma falta de sentido para a própria escolaridade.

Os mais lúcidos dos nossos contemporâneos interrogam-se sobre os motivos que levam a Escola a reproduzir o modelo social vigente e a ter perdido o seu carácter inovador de cultura e de avanço em humanismo.

Parece que o motivo é este que se acaba de ver: a Escola instrumentalizou-se, funcionalizou-se. É capaz de formar pessoas competentes para muitas funções, mas não é capaz de formar seres humanos mais próximos do seu semelhante, mais integrados na natureza e, porque não dizê-lo, mais crentes e bem situados perante a Transcendência.

O positivismo que comanda a Escola pelo menos desde o século XIX está na origem da sua crise dos nossos dias. Por isso, o ambiente escolar não melhora a sociedade nem o cidadão. Há muito que nos desiludimos daquela velha máxima segundo a qual abrir uma escola é fechar uma cadeia. Isto é mais visível quanto à Escola estatal. Mas é-o igualmente, embora em menor medida, em relação ao ensino não estatal, pois tudo é planeado pelo Estado omnisciente em que vivemos.

A revisão da cultura moderna a que se assiste em alguns sectores do pensamento dito pós-moderno tem virtualidades para pensar a Escola de outra maneira, igualmente eficaz, e mais apta a crescer em humanismo e não apenas em competências técnicas. Assim as instâncias mais responsáveis da nossa sociedade e da nossa política fossem capazes de se sentar à mesa para pensar o que diz respeito a todos, em vez de se encresparem a discutir se a Escola deve ser laicista ou deve ser confessional.

 

Jorge Teixeira da Cunha – Voz Portucalense , 14/11/2007

 

 

 

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publicado às 18:08

De roupa domingueira

por Rui Luzes Cabral, em 08.11.07

Se existe beleza,

Alguma,

Profunda.

É ao domingo

No adro,

Na igreja,

Nas conversas,

Nos cigarros escondidos dos jovens.

E lá vem de roupa domingueira,

O Zé e o Manel,

A Maria e a Manuela.

Bicicleta,

Motorizada,

A pé

Ou de carro.

Quase muitos,

Vêm e vão,

Falam e riem.

Namoram e missionam

E depois vão ou foram então à Eucaristia.

 

22 de Fevereiro de 2000

02:58

 

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publicado às 23:51


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